Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse ao novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, nesta quinta-feira (1º), em cerimônia no Palácio do Planalto. Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Lewandowski substitui Flávio Dino, que foi nomeado para uma cadeira na Corte.
Em discurso durante o evento, o novo ministro disse que, para o combate à violência no país ter sucesso, precisa ir além da "enérgica ação policial".
"É escusado dizer que o combate à violência, para ter êxito, precisa ir além de uma permanente enérgica ação policial, demandando políticas públicas que permitam superar apartheid social que continua segregando", afirmou.
O tema da segurança pública tem ganhado cada vez mais protagonismo no ministério, em meio ao crescimento de organizações criminosas no país e a episódios de violência gerados por disputas entre facções, como vistas no Rio de Janeiro e na Bahia.
O próprio presidente Lula, após o discurso de Lewandowski, pediu empenho no combate ao crime organizado, e disse que ele funciona como uma "indústria multinacional".
Ao Ministério da Justiça estão ligados a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional, que tem sido enviada aos estados para reforço na segurança em momentos de crise.
No discurso, Lewandowski afirmou que a criminalidade no país é resultado de mazelas históricas e que "não há soluções fáceis" para essas questões.
Por isso, para o novo ministro, "não adianta" endurecer penas ou focar no encarceramento para combater o problema. Segundo Lewandowski, a atuação da pasta tem que ser focada em políticas públicas, inteligência, e na cooperação com estados e municípios para "sufocar as facções criminosas".
O ministro disse que dará continuidade ao trabalho de Dino na pasta, e apontou que o combate ao crime organizado terá especial atenção durante a gestão dele.
"É nossa obrigação, e o povo assim espera, que o Ministério da Justiça dedique especial atenção à segurança pública, que ao lado da saúde é hoje uma das maiores preocupações da cidadania", disse Lewandowski.
“Mas é preciso compreender, todavia, que a violência e criminalidade que campeiam entre nós não são problemas novos, são mazelas que atravessam séculos de nossa história, remontando aos tempos coloniais, em que índios e negros recrutados à força desbravavam sertões inóspitos e labutavam à exaustão nas lavouras de cana e de café e nas minas de ouro, prata e pedras preciosas para proveito de uns poucos”, completou ele.
Lula anunciou a escolha por Lewandowski em 11 de janeiro, e a nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) 11 dias depois. A exoneração de Flávio Dino foi oficializada nesta quinta. Ele permanece como senador até 22 de fevereiro, quando toma posse no STF.
Cerimônia de posse de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça — Foto: TV Globo/Reprodução
Em entrevista à GloboNews, em janeiro, o novo ministro da Justiça já havia afirmado que focará esforços na área da segurança pública, e que pretende investir em atividades de inteligência e na coordenação de polícias para combater o crime organizado.
"A segurança pública merecerá especial atenção do Ministério da Justiça sob minha gestão, que deverá expandir as atividades de inteligência e a coordenação entre as distintas autoridades policiais da União, estados e municípios para um combate mais eficaz, mais eficiente, à criminalidade organizada", declarou.
Com a troca no comando do Ministério da Justiça, Lewandowski fez mudanças estratégicas na pasta. Algumas exonerações foram publicadas na madrugada desta quinta-feira, em edição do Diário Oficial da União (DOU).
Um posto que não será alterado, no entanto, é o do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que é um nome de confiança do presidente Lula. O novo ministro já afirmou que vai mantê-lo no cargo.
Confira algumas trocas realizadas por Lewandowski:
Ricardo Cappelli, que ocupou o cargo de secretário-executivo do Ministério da Justiça, foi exonerado nesta quinta-feira. Após convite do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ele irá assumir a presidência da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Para o cargo considerado o "número 2" da pasta, Lewandowski escolheu o jurista e professor Manoel Carlos de Almeida Neto. A nomeação também já foi publicada no DOU.
A edição do Diário Oficial ainda confirmou a exoneração de Diego Galdino de Araújo, que era secretário-executivo adjunto. O substituto do cargo ainda não foi anunciado.
Rafael Velasco Brandani foi oficialmente exonerado da Secretaria Nacional de Políticas Penais nesta quinta-feira.
O substituto ainda não foi nomeado. No entanto, a expectativa é que Lewandowski anuncie o procurador André Garcia para o cargo. Atualmente, ele é secretário de Justiça do Espírito Santo.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, confirmou a informação em uma rede social.
Também exonerado nesta quinta-feira, Francisco Tadeu Barbosa de Alencar está deixando a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Para o cargo, irá assumir o procurador-geral de Justiça de São Paulo Mario Luiz Sarrubbo.
Em janeiro, durante entrevista à GloboNews, Sarrubbo afirmou ter a intenção de criar um Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) nacional para integrar estados e órgãos de Justiça no combate à criminalidade.
O governo exonerou Augusto de Arruda Botelho do cargo de secretário Nacional de Justiça. Botelho já havia afirmado que deixaria o cargo na gestão de Lewandowski.
A GloboNews apurou que o cargo, um dos mais importantes do ministério, será ocupado pelo advogado Jean Uema. A nomeação ainda não foi oficializada.
Entre as atribuições da secretaria está a coordenação da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, em parceria com os órgãos da administração pública.
Entre outros nomes que foram exonerados do Ministério da Justiça, conforme o Diário Oficial da União, estão:
Já entre os nomeados estão:
Flávio Dino e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia de balanço das ações de segurança pública em 2023 — Foto: TV Globo/Reprodução
Na quarta-feira (31), o ex-ministro Flávio Dino participou do último compromisso oficial no cargo. Ao lado do presidente Lula, ele fez um balanço das ações federais de segurança pública durante o ano de 2023.
Dino agradeceu pela "honra" de ocupar o posto, e Lula afirmou que o então ministro "prestou serviço extraordinário", em um "ano muito difícil".
Ricardo Lewandowski foi desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e juiz do Tribunal de Alçada Criminal do estado.
Se tornou ministro do STF em março de 2006, e presidiu a Corte de 2014 a 2016. Se aposentou em abril de 2023, um mês antes de completar 75 anos – idade máxima para o posto. "Parto para novas jornadas", afirmou ao anunciar a antecipação da aposentadoria.
Em 2016, como manda a Constituição, ele presidiu no Senado, na condição de presidente do STF, o julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Lewandowski também foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de 2010, a primeira em que vigorou a Lei da Ficha Limpa.
Em julho do ano passado, após a aposentadoria, o Ministério das Relações Exteriores anunciou a nomeação dele para o cargo de árbitro do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul. O novo ministro renunciou ao cargo para ocupar o Ministério da Justiça.
*G1