Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
A Americanas registrou um prejuízo de R$ 2,27 bilhões em 2023, de acordo com balanço financeiro divulgado pela companhia nesta quarta-feira (14). O valor representa uma variação de 82,8% em relação a 2022, quando a varejista teve perdas de R$ 13,2 bilhões (em valores atualizados).
Essa é a primeira publicação com o balanço completo de 2023 após a empresa encontrar, em janeiro do ano passado, uma fraude bilionária em suas demonstrações financeiras — que levou a companhia a um processo de recuperação judicial.
"Esses eventos impactaram o resultado do período, com queda relevante na receita e contabilização de prejuízos recordes", informou a Americanas em relatório financeiro.
Conforme o documento, a receita líquida da companhia foi de R$ 14,9 bilhões em 2023, uma queda de 42,1% em relação aos R$ 25,8 bilhões registrados em 2022.
"O resultado de 2023 foi negativamente marcado pelo impacto operacional da crise e redução de receitas, incluindo os custos adicionais da investigação e recuperação judicial e parcialmente compensados por impactos tributários", continuou a varejista.
A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. O plano foi aceito pelos credores da companhia apenas em 19 de dezembro, com apoio de mais de 90% dos votantes. (relembre no fim desta reportagem)
Nesta quarta, a empresa também divulgou os resultados do primeiro semestre de 2024, período em que contabilizou prejuízo de R$ 1,4 bilhão. (leia mais abaixo)
Em 2023, o volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) da empresa foi de R$ 22,8 bilhões, uma queda de 45,9% em relação a 2022.
De acordo com a Americanas, a redução ocorreu, principalmente, por conta das perdas de 75,7% nas vendas de sua plataforma digital. A soma de operações por esses canais foi de R$ 6,02 bilhões no ano passado, enquanto, em 2022, o volume havia sido de R$ 24,7 bilhões.
"Esse desempenho negativo no digital é atribuído à estratégia da companhia de diminuir o volume de vendas do 1P (vendas próprias) e migrar categorias relevantes para o 3P (marketplace), com o objetivo de melhorar a rentabilidade da operação", informou a empresa.
A companhia informou que, por outro lado, as lojas físicas "demonstraram sua força", alcançando R$ 14,1 bilhões em 2023 e respondendo por mais de 60% do GMV total. Em comparação com 2022, o volume bruto de mercadorias das lojas físicas teve uma retração de 2,3%.
Ainda segundo a Americanas, a performance do varejo físico "melhorou sequencialmente" a partir do segundo trimestre de 2023, quando a companhia "reestabeleceu o relacionamento com boa parte dos fornecedores", estabilizou o abastecimento e iniciou mudanças na gestão de categorias de produtos.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado da Americanas foi negativo em R$ 2,4 bilhões em 2023, uma variação de 26,2% frente aos R$ 3,2 bilhões negativos registrados em 2022.
Esses valores excluem despesas relativas à recuperação judicial, investigação, deterioração de ativos e revisão de estimativas de contingências por conta do desconto previsto no processo de recuperação.
Já o endividamento bruto da Americanas ficou em R$ 39,4 bilhões em 2023, uma alta de 5,6% ante os R$ 37,3 bilhões registrados no ano anterior.
Por fim, o patrimônio líquido da empresa foi negativo em R$ 28,8 bilhões em 2023, uma deterioração de R$ 2,1 bilhões em relação ao fim de 2022.
A Americanas também reportou nesta quinta um prejuízo de R$ 1,4 bilhão no primeiro semestre de 2024. O valor representa uma variação de 55,9% em relação ao mesmo período de 2023, quando a varejista teve perdas de R$ 3,2 bilhões.
Para explicar o resultado dos primeiros seis meses deste ano, a companhia afirmou que, ao longo de 2023, manteve seu foco na operação de lojas e no atendimento aos clientes, além de implementar mudanças emergenciais.
Segundo a Americanas, esse processo "possibilitou a desaceleração da queda da receita consolidada, principalmente no varejo físico".
A receita líquida da companhia foi de R$ 6,8 bilhões no primeiro semestre de 2024, uma queda de 2,6% em relação aos R$ 7,03 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.
"Esse ritmo de melhora continuou ao longo dos primeiros seis meses de 2024, quando a companhia registrou receita crescente no varejo físico e expansão da margem bruta, a despeito da redução de lojas e eliminação de produtos de alto valor, como TVs telas grandes, linha branca e informática", informou em seu relatório financeiro.
No primeiro semestre do ano, o volume bruto de mercadorias (GMV) da empresa foi de R$ 10,06 bilhões, um recuo de 9% em relação aos R$ 11,05 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.
O varejo físico representou R$ 7,2 bilhões do total, um crescimento de 15,9% em relação a igual período de 2023. Já o varejo digital correspondeu por R$ 1,6 bilhão, uma retração de 55,3%, "mas em linha com a estratégia de manter esse canal como complemento da jornada de compra do cliente", reportou a varejista.
Em janeiro de 2023, a Americanas divulgou um fato relevante informando que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.
O então presidente da Americanas, Sergio Rial, decidiu deixar o comando da companhia e o escândalo iniciou um processo de derretimento de uma das maiores varejistas do Brasil.
Como consequência da revelação feita durante a noite, os investidores amanheceram em polvorosa.
As principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão.
Em poucos dias, a situação da Americanas degringolou. Ações da empresa derreteram ao longo da semana e começaram as disputas judiciais com credores em busca de pagamentos.
A empresa, no entanto, comunicou que mantinha apenas R$ 800 milhões em caixa, o que tornava a operação insustentável.
Sem solução para a pressão dos credores, a Americanas foi obrigada a entrar com um pedido de recuperação judicial para travar a dívida.
As "inconsistências contábeis" haviam levado as dívidas da empresa para a casa dos R$ 43 bilhões, entre aproximadamente 16,3 mil credores.
A primeira versão do plano de recuperação judicial da companhia foi divulgada em março de 2023. O acordo, no entanto, foi completamente aceito pelos credores apenas em dezembro do mesmo ano.
O plano apresentou um saldo de R$ 50,1 bilhões de créditos a serem reestruturados, uma dívida trabalhista de R$ 82,9 milhões e uma fraude de resultado de R$ 25,2 bilhões ao final de 2022.
O plano de recuperação judicial da Americanas aprovado pelos credores também prevê: