Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, enumerou, durante sessão no plenário do Senado, os temas que impedem a redução da taxa de juros elevados no Brasil, entre eles estão os gastos públicos. A arguição foi marcada pelo Senado para que Campos Neto explicasse as razões pela demora em iniciar o ciclo de redução da taxa básica de juros, mesmo após a inflação brasileira desacelerar.
Segundo Campos Neto, "apesar do esforço fiscal", o Brasil ainda gasta, em termos reais, ou seja, considerando a inflação, muito acima do resto do mundo. Ele apresentou gráficos demonstrando que nos anos de 2023 e 2024 o Brasil vai gastar 3,3% acima da inflação, enquanto a média dos gastos na américa latina a taxa será 0,9%. “Mesmo com todo esforço que tem sido feito, o crescimento de gastos acima do resto do mundo ainda é uma característica do Brasil”, apontou o presidente do BC, frisando que este é “um tema estrutural” do país, independente do partido que governa. Para exemplificar o esforço que vem sendo feito para diminuição de gastos, Campos Neto citou a reforma da previdência, aprovada durante o governo Bolsonaro.
O presidente do BC também apontou o esforço do governo atual para aumentar a arrecadação, através de medidas como o novo marco fiscal, a reforma tributária e matérias que ainda serão encaminhadas. Ponderou, no entanto, que o mercado ainda não projeta em suas previsões o otimismo da equipe econômica.
Ao comentar que a política fiscal e a política monetária são interdependentes, Campos Neto mencionou uma “desancoragem gêmea” entre as previsões do mercado e aquelas feitas tanto pelo Banco Central quanto pelo ministério da Fazenda. “Eu digo que a inflação vai ser baixa lá na frente, mas o mercado nem sempre acredita. Por outro lado, o governo diz que vai fazer um (resultado) fiscal melhor na frente, o mercado também não põe isso no preço”, disse.
Ele apontou o projeto do arcabouço fiscal, que estima, a partir de 2024, que o país conseguirá sair do vermelho, ficando com o déficit zero no ano que vem e alcançando o saldo positivo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026. Enquanto isso, instituições financeiras ouvidos pelo BC preveem sucessivos déficits até 2026, quanto o atual governo se encerra.
“À medida em que forem passando as medidas que preveem mis receitas, esse número vai melhorar e isso vai contribuir para uma inflação menor lá frente. Se a gente (governo) consegue ancorar essa expectativa fiscal, eu também consigo ancorar a expectativa monetária e isso vai fazer com que os juros fiquem melhor lá na frente”.
Ao explicar a estratégia utilizada pelo Banco Central, desde que assumiu o cargo, Campos Neto avaliou que “fez um bom trabalho em termos de pouso suave”. Ele chamou de pouso suave, a capacidade de reduzir a inflação com o mínimo de custo para economia. “Se a gente comparar o que caiu com a inflação no Brasil, proporcional ao que gerou ou ao que aconteceu no emprego e o que aconteceu com o crescimento econômico, a gente tem dificuldade de achar um outro país no mundo que tenha conseguido reduzir a inflação nessa mesma proporção, quase sem alteração no crescimento e com geração de emprego no mesmo período”.
Na semana passada, após quase três anos com a taxa no mesmo patamar, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a Selic de 13,75% para 13,25% ao ano. Ainda assim, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), manteve a agenda de hoje, para que a autoridade monetária possa prestar esclarecimentos ao Parlamento sobre a política de controle da inflação. A Lei de Autonomia do Banco Central determina que o presidente do BC preste esclarecimentos no início de cada semestre.
Foi a primeira vez que isso aconteceu, desde que a lei foi aprovada, em 2021. O que motivou a arguição foram as queixas de parte dos senadores em relação à demora do BC para iniciar o ciclo de reduções da Selic.
*Correio Braziliense