A nova modalidade de crédito, chamada Crédito do Trabalhador, promete simplificar o processo de empréstimos consignados para pessoas com carteira assinada a partir de sexta-feira (21), por meio do aplicativo da Carteira Digital. Inicialmente, os empréstimos poderão ser contratados exclusivamente pelo aplicativo, permitindo que o trabalhador escolha os bancos e instituições financeiras diretamente na plataforma do governo. O Executivo espera beneficiar cerca de 47 milhões de trabalhadores. A nova linha de crédito oferecerá juros mais baixos para quem tem carteira assinada, com recursos garantidos pelo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O economista Ricardo Buso explica que o crédito consignado tem taxas menores porque oferece menos risco para as instituições financeiras, já que o desconto é feito automaticamente.
“A vantagem do consignado, principalmente para as famílias endividadas, é que você consegue trocar uma dívida por uma taxa menor e gerir melhor o orçamento e as finanças familiares”, afirma.
A partir de 25 de abril, o trabalhador também poderá contratar o crédito diretamente pelos canais eletrônicos dos bancos. A estimativa é que mais de 80 instituições estejam habilitadas a oferecer essa modalidade, e o início da habilitação ocorrerá após a publicação da medida provisória.
O programa
As parcelas do empréstimo serão descontadas diretamente da folha de pagamento, por meio do eSocial, o que permite taxas de juros inferiores às praticadas atualmente no consignado por convênio. Após a contratação, o trabalhador poderá acompanhar mensalmente as atualizações do pagamento das parcelas.
Galeria Crédito Trabalhador
No evento de lançamento do programa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou três eixos estruturais da economia: acesso à educação, um sistema tributário justo e o acesso ao crédito. “Sem crédito, você não democratiza oportunidades. As pessoas nascem com o pouco que têm e precisam se virar. Um emprego é muito bom, mas, quando associado a educação de qualidade e crédito, pode mudar a história de um país”, afirmou.
Haddad também ressaltou que o programa é uma iniciativa de médio prazo. “Inicia-se uma curva de aprendizado e, no futuro, poderemos olhar para trás e dizer que este foi um dia importante para o trabalhador.”
Já o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, afirmou que a medida veio para dinamizar o crédito disponível no país. A previsão é que 47 milhões de trabalhadores formais sejam beneficiados, incluindo assalariados rurais e funcionários de MEIs (Microempreendedores Individuais).
O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, fez um paralelo com a ampliação do acesso a serviços bancários entre 2003 e 2010, quando mais de 32 milhões de trabalhadores passaram a integrar o sistema financeiro. “Esse é um olhar diferente, inclusivo. Não é segregando o cidadão que o mercado de crédito brasileiro vai crescer”, afirmou.
O que dizem os especialistas?
A professora de economia do Ibmec Rio de Janeiro, Gecilda Esteves, avalia que a criação dessa modalidade pode ajudar a reduzir o endividamento da população, mas alerta que ainda se trata de um empréstimo. “Existe um dever de casa para o tomador de crédito. Ele precisa fazer algo que o brasileiro muitas vezes evita: planejamento financeiro. Isso significa analisar o orçamento doméstico, estabelecer prioridades e frear gastos desnecessários.”
Gecilda também destaca que, durante mentorias, percebe que muitas pessoas não sabem exatamente o quanto devem. “É essencial avaliar a dívida e ponderar se o empréstimo realmente será benéfico. Se o trabalhador utiliza o crédito para viajar ou comprar bens que perdem valor rapidamente, sem considerar seu nível de endividamento, isso pode se tornar um problema. O objetivo do governo com essa iniciativa é a redução do endividamento, e não o incentivo ao consumo desenfreado”, ressalta.
Já Ricardo Buso chama atenção para o atual cenário de juros altos — com a taxa Selic em 13,25% — e recomenda cautela: “Não é o momento ideal para se endividar. No entanto, essa modalidade pode ser interessante para quem já possui uma dívida, pois o crédito pessoal tradicional costuma ter juros mais elevados. O ideal é utilizar esse recurso para trocar uma dívida cara por outra mais barata.”
O economista também alerta para os riscos do uso do crédito para consumo imediato. “A economia está aquecida, e o Banco Central busca justamente esfriá-la. Quanto mais estímulos surgirem para incentivar o consumo, maior será a necessidade de manter os juros elevados. Esse é o grande dilema: uma disputa de forças entre crescimento e controle da inflação”, conclui.
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