Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
Terça-Feira, 26 de novembro de 2024
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, somou 0,38% em julho. O valor mensal já trouxe uma aceleração, mas o que chamou a atenção foi que o indicador avançou para 4,5% em doze meses — no teto do sistema de metas.
De acordo com analistas, a inflação no teto da meta joga mais pressão sobre a atuação do Banco Central na determinação da taxa básica de juros, que atualmente está em 10,5% ao ano, mas não é o principal fator, neste momento, na fixação da Selic.
Isso ocorre porque as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre os juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Por isso, elas são tomadas olhando para frente, com base o cenário futuro para a inflação, e não os números dos últimos meses.
Os últimos dados da inflação, entretanto, podem fornecer ao Banco Central indicações sobre o que pode acontecer com os preços no futuro.
Segundo avaliou na Câmara dos Deputados nesta semana o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, a inflação dos últimos meses é avaliada para ver "o qualitativo [da inflação], para ter alguma leitura sobre o que vai afetar na frente".
Se há, por exemplo, uma tendência de alta persistente e generalizada da inflação, com os núcleos mensais do IPCA (que eliminam a cada mês as maiores e as menores variações dos preços que compõem o índice cheio) subindo, a instituição pode optar por ter uma política de juros mais dura.
A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano. A partir de 2025, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida (sempre considerando o cenário em 12 meses).
O problema é que as projeções de inflação, tanto do mercado financeiro quanto do BC, estão subindo para os próximos anos.
Por conta da piora das expectativas de inflação, o BC informou, por meio da ata da última reunião do Copom, que não "não hesitará em elevar a taxa de juros" se julgar apropriado.
Cotado para ser presidente do BC a partir de janeiro de 2025, o diretor de Política Monetária da instituição, Gabriel Galípolo, disse que "todos diretores [do BC, com voto na definição da taxa de juros] estão dispostos a fazer o que for necessário para cumprir a meta [de inflação]".
Comitê de Política Monetária, com Campos Neto (à frente, à esquerda) e Galípolo (terceiro à esquerda). — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Até o momento, porém, a maior parte do mercado financeiro ainda não acredita em alta de juros neste ano e em 2025.
Para os economistas Alexandre Maluf e Rachel de Sá, da XP Investimentos, o resultado da inflação de julho veio um pouco acima das expectativas, com a principal surpresa vindo da gasolina (que teve reajuste anunciado recentemente), assim como mudança na bandeira tarifária da energia elétrica.
Ao mesmo tempo, os analistas avaliaram que os preços de produtos industriais retomaram força em julho diante da disparada do dólar e da demanda aquecida, e a inflação de serviços acelerou. Por outro lado, eles observaram que os preços dos alimentos seguiram em queda em julho.
Considerando os últimos números da inflação, a XP estimou que a inflação "siga relativamente bem-comportada nos próximos meses", e que encerre este ano em 4,1%, ou seja, acima da meta central do Banco Central, de 3%, mas dentro do intervalo de tolerância (abaixo de 4,5%).
'"Em resumo, embora a inflação siga relativamente bem-comportada no curto prazo, os riscos olhando adiante limitam a continuidade da queda da taxa Selic – que deve seguir em 10,50% ao ano até o ano que vem (ou mesmo subir, caso o cenário deteriore)", concluiu a XP, em sua análise.
Segundo avaliação do estrategista para renda fixa do Itau BBA, Lucas Queiroz, um ponto de atenção no resultado do IPCA de julho foi a aceleração dos preços no núcleo de serviços, que nos últimos três meses apresentou um ritmo anualizado de 6,1%.
"Isso significa que os preços em setores como alimentação fora de casa e serviços pessoais, que costumam ser mais rígidos, estão subindo mais rápido, o que pode indicar pressões inflacionárias persistentes", avaliou.
Para ele, os aumento nas curvas de juros (dos próximos anos, no mercado futuro) já incorporam, pelo mercado financeiro, um "cenário mais desafiador" para os próximos anos nas taxas de juros.
"Esses números mostram que o mercado está cauteloso, antecipando um ambiente de inflação elevada por mais tempo. Em resposta a essa preocupação, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) destacou que o Banco Central está atento e preparado para ajustar os juros caso as expectativas de inflação e a dinâmica da taxa de câmbio se mantenham", acrescentou.
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Na última semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que já esperava um aumento da inflação neste ano em função do cenário internacional, mas observou que o dólar registrou queda nos últimos dias – e pregou cautela no acompanhamento dos números para fixação do juro básico pelo Banco Central.
"O BC tem mandato para cuidar da inflação (...) O BC tem falado a respeito, o dólar teve uma queda significativa nos últimos dias. E a gente espera que esses números [da inflação] convirjam para patamares inferiores. Mas nós esperávamos, em função do que esta acontecendo no mundo, que houvesse alguma mexida na inflação nesse ano", disse Haddad, a jornalistas, na ocasião.
"Vamos acompanhar com calma, o BC já parou os cortes. Nós vamos acompanhar com calma e analisar com calma. Há muita coisa para acontecer esse ano, sobretudo no cenário internacional. Temos de ter cautela agora", completou Haddad.
Ele acrescentou que os números do IBGE também mostram "boas notícias em relação à cesta básica, aos preços de alimentos". "Nós temos que acompanhar sem ansiedade e tomar as medidas necessárias para o Brasil continuar crescendo com a inflação baixa", afirmou o ministro.
*G1