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Terça-Feira, 26 de novembro de 2024

Economia

Supermercados podem ter mais incentivo fiscal para doar alimentos ao invés de jogar fora

Supermercados podem ter mais incentivo fiscal para doar alimentos ao invés de jogar fora

(Imagem: Tânia Rego/Agência Brasil)

Um projeto de lei para incentivar supermercados a doar alimentos, em vez de jogá-los fora, deve ser votado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado nesta quarta-feira (21). A proposta atende a uma demanda dos donos de supermercados, que alegam que, sob as regras atuais, é financeiramente mais vantajoso descartar alimentos que estão imperfeitos (ainda próprios para consumo, mas menos atraentes para venda) do que doá-los.

O projeto prevê a criação da Política Nacional de Combate à Perda e ao Desperdício de Alimentos e propõe aumentar a desoneração da base de cálculo da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) de 2% para 5%.

A desoneração valeria para a doação de alimentos dentro do prazo de validade e produtos in natura em condições de consumo seguro, conforme as normas sanitárias.

A votação do projeto foi adiada na semana passada na comissão devido à falta de consenso. A ala governista se opõe ao aumento da desoneração, e alguns senadores defendem que o benefício deveria ser destinado aos produtores de alimentos, em vez de aos supermercados.

Originalmente, o projeto estabelecia a obrigatoriedade da doação de alimentos, o que foi alterado. Para o relator, senador Alan Rick (União-AC), impor a doação aos mercados e estabelecimentos fere o direito de propriedade, garantido pela Constituição.

Durante a última sessão da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que considera a proposta válida, mas destacou que os benefícios fiscais concedidos às empresas nem sempre se refletem em vantagens para o consumidor.

“A iniciativa do projeto é muito válida, é lógico, mas veja bem, nós estamos falando em doação de coisas que já estão praticamente vencidas, e ainda você vai dar incentivo para essas pessoas? Espere aí: eles vão jogar fora? Aí, por maldade, porque nós não damos incentivo, joga fora?”, comentou.

“Essa pseudodesoneração da cesta básica, que nunca chega ao consumidor, é uma mentira muito grande. Não chega. Só aumenta o lucro do dono do supermercado. E a gente fica nessa onda de achar que nós estamos desonerando a cesta básica, e o consumidor num bairro, numa comunidade ou num município não está recebendo esse benefício”, completou.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), indicou que o principal obstáculo ao projeto é o aumento da isenção fiscal para supermercados. O governo tem resistido a expandir as medidas de desoneração devido à pressão para cumprir as metas fiscais nos próximos anos.

No entanto, o relator argumentou que a proposta não compromete os cofres públicos. Segundo ele, a legislação do Imposto de Renda já prevê uma isenção de 2%. O problema é que muitas empresas, incluindo supermercados e distribuidores, evitavam fazer doações porque a isenção de 2% não compensava. “Era mais vantajoso descartar os produtos e registrá-los como prejuízo no balanço, em vez de aproveitá-los para obter a isenção”, explicou.

O debate ocorre em um contexto preocupante, já que o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), cada brasileiro descarta, em média, 60 quilos de alimentos em boas condições de consumo a cada ano.

*R7