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Sábado, 23 de novembro de 2024

Educação

Enem: é preciso 'lacrar' para tirar mil na redação? Professores respondem

Enem: é preciso 'lacrar' para tirar mil na redação? Professores respondem

(Imagem: G1)

Um dos elementos obrigatórios da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a apresentação de uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Esse elemento tem uma competência exclusiva para sua avaliação e vale 200 pontos.

Mas como os direitos humanos entram nessa história?

“Direitos humanos são aqueles prescritos na própria Declaração Universal e na nossa Constituição de modo geral. Eles são classificados em direitos individuais, direitos sociais — que têm muito a ver com o Enem — e direito ao meio ambiente”, explica Felipe Leal, professor de redação do Curso Anglo. 

Segundo o professor, para obter uma boa pontuação na competência 5, que avalia o elemento, o candidato não pode defender direitos para um grupo social às custas do direito de outro grupo. Ou seja, a proposta precisa defender a manutenção ou ampliação dos direitos, e não a redução.

O Enem 2024 será aplicado nos dias 3 e 10 de novembro. A redação será aplicada no primeiro dia de provas. O texto deve ser uma dissertação argumentativa com proposta de intervenção.

 

Pode parecer confuso, mas nesta reportagem, você saberá o que é e o que deve conter uma proposta de intervenção, e por que é preciso defender os direitos humanos no texto.

O que é uma proposta de intervenção

 

Todo ano, o Inep, responsável pela realização do Enem, divulga um documento chamado “Redação do Enem - Cartilha do Participante”. De acordo com esse documento, “propor uma intervenção para o problema apresentado pelo tema significa sugerir uma iniciativa que busque enfrentá-lo.”

Mateus Leme, professor de redação da Oficina do Estudante, diz que a ideia é que o candidato indique uma iniciativa que interfira no problema discutido ao longo de seu texto.

  • Competências da redação
 

Ao todo, a redação vale 1000 pontos. Estes pontos podem ser alcançados pelo candidato que cumpre adequadamente com as 5 competências obrigatórias. São elas:

  1. Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
  2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
  3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
  4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
  5. Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
 

Essas competências têm seus próprios elementos obrigatórios e valem 200 pontos cada. O candidato que respeitar todos estes elementos alcança a tão sonhada nota 1000.

 

O que uma proposta de intervenção deve ter

 

Ainda segundo a cartilha do participante, uma proposta de intervenção deve responder às seguintes perguntas:

  1. O que é possível apresentar como solução para o problema?
  2. Quem deve executá-la?
  3. Como viabilizar essa solução?
  4. Qual efeito ela pode alcançar?
  5. Que outra informação pode ser acrescentada para detalhar a proposta?
 

Mateus Leme explica com outras palavras:

É preciso indicar o agente, a ação, o modo-meio, o efeito e o detalhamento. Para isso, o aluno deve refletir sobre quem tem responsabilidade ou capacidade para agir sobre o problema, bem como a maneira com que isso pode ser feito, de uma maneira realista. Não adianta colocar que é dever do governo federal, por exemplo, se houver uma entidade que atue diretamente no cenário do problema.
— Mateus Leme, professor de redação.

O que são direitos humanos e como não desrespeitá-los

 

Além de precisar conter os cinco elementos obrigatórios, também é preciso respeitar os direitos humanos na redação para conseguir os 200 pontos da competência 5.

Por isso, segundo a cartilha do participante, o candidato não pode propor no texto:

  • defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de “justiça com as próprias mãos”;
  • incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, opinião política, condição física, origem geográfica ou socioeconômica;
  • explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos).
 

No sentido contrário, o documento considera alguns princípios norteadores dos direitos humanos. São eles:

  • dignidade humana;
  • igualdade de direitos;
  • reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades;
  • laicidade do Estado;
  • democracia na educação;
  • transversalidade, vivência e globalidade;
  • sustentabilidade socioambiental.
 

É preciso 'lacrar' para pontuar?

 

Os professores ouvidos pelo g1 avaliam que a redação do Enem não tem como objetivo ser "lacradora".

“O Enem não entra nessa polêmica, ele não se aproxima de questões de ideologia. Essa é uma prova muito legalista, então fica próxima daquilo que já está na legislação brasileira”, diz Mateus Leme. 

Felipe Leal concorda, e acrescenta que ideias como o combate à desigualdade e o respeito à dignidade são previstos em Constituição.

Portanto, não adianta usar o livro constitucional como repertório cultural e contradizer o que ele defende na proposta de intervenção.

*G1