Domingo, 24 de novembro de 2024
Domingo, 24 de novembro de 2024
Em 2020, os professores da rede municipal de Grupiara (MG) que tinham uma jornada de 40 horas por semana recebiam, em média, um salário mensal bruto de pouco mais de R$ 1.200, somando todos os adicionais e eventuais comissões por produtividade. Já em Paulínia (SP), nas mesmas condições, a remuneração foi 16 vezes maior: de R$ 19 mil.
(Mais abaixo, digite o lugar onde você mora para descobrir quanto os docentes ganham na sua região.)
Os dados que evidenciam a disparidade regional são os mais recentes disponíveis e foram divulgados no fim de julho deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
Eles levam em conta o Censo Escolar e as informações disponibilizadas ao governo pelos empregadores, no sistema chamado Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
O contraste, embora menor, também foi detectado entre as redes estaduais: as remunerações médias variaram de R$ 2.542,03 (em Alagoas) a R$ 11.447,48 (no Pará). Os valores são sempre referentes a cada vínculo empregatício -- ou seja, representam quanto um profissional ganha em determinada vaga. Se um docente der aula em mais de uma rede, aparecerá mais de uma vez na pesquisa.
Ao g1, o MEC afirmou que os estados e municípios são autônomos na gestão de suas redes de ensino e que "cabe aos órgãos de controle apurar o cumprimento da lei por parte dos entes federados".
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação alagoana e com as secretarias municipais das cidades com salários mais baixos para entender por que os índices foram insatisfatórios. Até a mais recente atualização desta reportagem, ninguém havia respondido.
Andressa Barbosa, professora da PUC-Campinas e membro da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), lembra que "uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é equiparar o salário dos professores ao de outros profissionais com formação equivalente".
"Ainda estamos muito distantes disso. Nem a lei do piso é integralmente cumprida", diz.
"Os docentes passaram por uma pandemia e pela implementação da Base Nacional Comum Curricular [BNCC] e do novo ensino médio. As demandas aumentam, mas a remuneração, não. Isso tem provocado uma debandada de profissionais."
Os salários dos professores são uma soma: impostos arrecadados pelo governo local + verba vinda do chamado "Fundeb".
Essa sigla representa o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, um grande "cofre" que recebe contribuições da União, dos estados e dos municípios, para depois redistribuir os recursos a todos, de maneira mais igualitária. Na hora de dividir a quantia, o fundo leva em conta o número de alunos de cada rede.
Somando os salários dos professores com todas as remunerações extras (como gratificações), exceto com o 13º salário, as médias nacionais foram as seguintes, para a jornada de 40 horas semanais:
Abaixo, busque o salário médio dos professores do local onde você mora (na rede municipal e na estadual). Em seguida, continue lendo a reportagem para:
Observação: algumas localidades, pelo baixo número de docentes registrados pelo Inep, tiveram seus dados omitidos na pesquisa.
Ao g1, o Inep reforçou que esses dados são sempre referentes à carga horária de 40 horas semanais, para que haja um padrão de comparação.
Mas, na "vida real", a remuneração pode ser diferente: os docentes costumam dar menos aulas do que isso e, consequentemente, ganharem salários mais baixos.
No Pará, por exemplo, se considerarmos a real quantidade de horas trabalhadas (em geral, 20 por semana), o salário efetivamente pago na rede estadual foi de, em média, R$ 5.841,14.
Ainda assim, mesmo no ranking que considera a carga horária mais comum (e não a de 40 horas), o estado está no "top 3 nacional", ficando atrás apenas do Distrito Federal (R$ 6.375,27; 33 horas semanais) e do Amapá (R$ 6.357,92; 39 horas semanais).
Barbosa, da PUC-Campinas, diz que pagar bons salários a docentes:
Claudia Costin, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade Harvard, reforça a importância do incentivo à educação integral, como a iniciativa anunciada em 31 de julho pelo governo federal.
O g1 também buscou apurar por que o salário de Paulínia foi de R$ 19 mil, tão acima da média nacional.
Alguns pontos a serem considerados:
Ainda assim, R$ 19 mil parecem ser uma distorção, afirma Claudia Costin.
Segundo o município, o valor da hora-aula em 2020 era de R$ 59,32, o que somaria, sem os adicionais, cerca de R$ 9.500 por mês. De onde viriam os outros R$ 10 mil? "Pode ser que tenha sido um bônus específico que não se repetiu nos outros anos", afirma a professora da FGV.
Após ser questionada pelo g1 sobre um possível erro na digitação dos números, a equipe técnica do Inep conferiu a apuração e insistiu que o dado está correto.
Já a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas de Paulínia não forneceu os dados exatos de 2020, data da pesquisa, nem esclareceu o que poderia justificar os R$ 19 mil informados ao Inep, mas disse que, na folha de pagamento dos funcionários em julho de 2023, o valor bruto foi abaixo abaixo disso: R$ 15.559,89. A pasta não esclareceu qual a composição da remuneração em 2020.
Considerando a carga horária de 40 horas semanais, as redes estaduais (contando a do Distrito Federal) com maiores salários são:
E as municipais são de:
Também no padrão de 40 horas semanais, veja, a seguir, as remunerações mais baixas nas redes estaduais:
E nas municipais:
Todas as redes citadas nos rankings de menores salários foram procuradas pelo g1 para comentarem os baixos índices, mas não haviam respondido até a última atualização desta reportagem.
*G1