Terça-Feira, 11 de março de 2025
Terça-Feira, 11 de março de 2025
“Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando?” A revolta do atacante do Palmeiras, foi uma reação ao racismo durante a partida contra o Cerro Porteño, pela Libertadores Sub-20, esta semana, no Paraguai.
O Palmeiras derrotou o time de casa por três a zero. Mas, como Luighi destacou, o fato mais importante aconteceu fora do campo.
Nos minutos finais, um torcedor, com uma criança no colo, imita um macaco para o camisa 10, Figueiredo, no momento em que ele é substituído e deixa o campo.
Logo depois, Luighi também é alvo de ofensas racistas. Torcedores do Cerro Porteño xingam e cospem no jogador quando ele deixa o gramado para ser substituído. Um deles é o mesmo torcedor que tinha acabado de ofender Figueiredo. Ele repete o gesto racista a Luighi.
"E eu não me aguentei. Eu fiquei com muita raiva. Fui nos policiais que estavam do lado. Falei: ‘vocês vão deixar ele falar isso daí para mim? Vocês não vão fazer nada?’ E eles só olharam para mim, de mão cruzada e não fizeram nada”, conta o jogador.
E continua: “O árbitro, ele só pedia para eu sair do campo. Parecia, tipo, que não ligava para o que aconteceu.”, completa Luighi.
O jogador contou ao Fantástico sobre episódios de racismo sofridos anteriormente.
"De onde eu venho, eu sempre sofri um tipo de racismo que me incomodava muito. E um dia eu coloquei na minha mente que como eu jogo futebol, só o futebol poderia mudar isso", conta o atleta.
Na entrevista depois do jogo, ele demonstrou toda sua revolta quando o repórter da Conmebol, entidade organizadora do campeonato, ignora os ataques racistas e simplesmente o parabeniza perguntando sobre a sensação depois do triunfo.
“Não, não. É sério isso? Você não vai perguntar sobre o ato de racismo que fizeram comigo. É sério? Até quando a gente vai passar por isso? Até quando? Me fala, até quanto a gente vai passar isso? O que fizeram comigo foi um crime, pô. Você ainda vai perguntar isso? Você vai perguntar sobre o jogo mesmo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? A CBF, sei lá... Você não vai perguntar sobre isso? Não ia, né? Você não ia perguntar sobre isso. O que fizeram foi um crime comigo, pô. A gente é formação. Aqui é formação. A gente está aprendendo aqui." disse o jogador palmeirense após o jogo.
O gesto de Luighi ganhou apoio de todo os times brasileiros da Série A.
Vini Jr., do Real Madrid, maior nome da luta contra o racismo hoje no esporte, cobrou punição da Conmebol.
O presidente Lula se manifestou dizendo que racismo significa o fracasso da humanidade.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, disse que está profundamente indignado com o abuso racista sofrido por Luighi.
Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, e Leila Pereira, presidente do Palmeiras, enviaram à Conmebol um pedido de punição aos torcedores e de exclusão do Cerro Porteño da competição.
Em relação ao episódio com Figueiredo e Luighi, o Cerro Portenho enviou uma carta para a presidente do Palmeiras "se desculpando pelo infeliz comportamento reprovável e triste de certas pessoas que estavam nas arquibancadas" e afirmando que "quando os agressores forem identificados", o clube vai "solicitar que nunca mais entrem no estádio do Cerro Porteño ou em qualquer outro estádio no Paraguai."
A Conmebol publicou em seu site que "o clube será multado em 50 mil dólares" e terá que "promover em suas redes sociais uma campanha contra o racismo". A Conmebol também decidiu proibir o acesso do público nos estádios onde houver jogos do Cerro Porteño pela Libertadores Sub-20 deste ano.
O Palmeiras reagiu em suas redes sociais às punições impostas pela Conmebol dizendo que são "extremamente brandas e, portanto, insuficientes para combater os reiterados casos de discriminação racial no futebol sul-americano". O clube brasileiro também repetiu "que acionará as entidades máximas do futebol mundial" em busca de uma penalidade maior. A CBF também criticou a Conmebol.
*G1/Fantástico