Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024
Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024
Entre as várias histórias que enriquecem a ida da seleção feminina de futebol para a final dos Jogos Olímpicos depois de 16 anos, uma das que melhor explica o sucesso da equipe em Paris-2024 é a da relação desta delegação com o Corinthians. Maior potência da modalidade na América do Sul, o Timão tem seis atletas entre as 18 convocadas (Gabi Portilho, Duda Sampaio, Jheniffer, Tamires, Yaya e Yasmim). Além delas, outras oito já atuaram pelo clube paulista anteriormente (Adriana, Ana Vitória, Angelina, Antônia, Gabi Nunes, Kerolin, Tainá e Tarciane).
Todos os seis gols marcados pelo Brasil na Olimpíada foram marcados por atleta que estão ou estiveram no time do Parque São Jorge — a exceção é, claro, o gol contra marcado por Paredes, da Espanha.
Mas a importante relação entre clube e seleção não consiste só na presença massiva de atletas ligadas ao Corinthians no elenco brasileiro. No comando técnico da equipe que disputará a final contra os Estados Unidos, no sábado, está Arthur Elias. Contratado para ser treinador da seleção em setembro do ano passado, para substituir a sueca Pia Sundhage, o comandante chegou no cargo com as credenciais de ter sido multicampeão no clube paulista. Entre os principais títulos estão as quatro Libertadores e os cinco Campeonatos Brasileiros.
Com a saída de Pia após as decepções em Tóquio-2020 e na Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, a contratação de Arthur Elias era vista como natural e até obrigatória por conta do enorme sucesso que teve no Corinthians e da chancela que tinha de pessoas ligadas ao mundo do futebol feminino. Essa, inclusive, era uma das preocupações do presidente Ednaldo Rodrigues.
Logo após a eliminação da Copa do Mundo, no empate em 0 a 0 com a Jamaica, o dirigente buscou a avaliação de pessoas fora da CBF sobre o trabalho de Arthur Elias. Tamanho era o otimismo com o treinador, que a entidade aceitou a condição imposta por ele, de levar os membros de sua comissão no Corinthians para a seleção.
Dessa forma, a CBF começou a colocar em prática a tentativa de repetir, na estrutura da seleção brasileira, o projeto do Corinthians na modalidade. Não à toa, Ednaldo Rodrigues foi buscar também no clube paulista a dirigente Cris Gambaré para ser a coordenadora técnica.
Depois de 11 anos como conselheira do Corinthians, Gambaré foi alçada ao cargo de diretora do time feminino em 2015, quando estava em vigor uma parceria do clube com o Audax. O objetivo principal, de profissionalizar o setor, foi mais do que concretizado. Sob a administração de Gambaré, o Timão enfileirou títulos e feitos históricos na modalidade, como a sequência de 34 vitórias e os seguidos recordes de público.
No fim da Copa do Mundo de 2023, a avaliação de dirigentes da CBF era que havia a necessidade de uma mudança na estrutura porque entendia-se que a coordenação anterior, chefiada por Ana Lorena Marche, ainda era pouco profissional se comparada com a de outros países que foram observados ao longo do Mundial.
Assim, Ednaldo tentou, por mais de uma vez, contratar Cris Gambaré, até que conseguiu em março desse ano. Foram sete meses de vácuo sem ninguém no cargo até a chegada da ex-Corinthians. A ótima relação de parceria entre a dirigente e o treinador era um dos trunfos em que o presidente da CBF se apoiava.
Com cerca de cinco meses de trabalho da dupla, e onze sob o comando do treinador, já pode ser dito que os frutos estão sendo colhidos. Mesmo que tenha tido altos e baixos ao longo da campanha olímpica, a medalha já garantida pela seleção será a primeira desde a prata em 2008.
*O Globo