Sexta-Feira, 20 de setembro de 2024
Sexta-Feira, 20 de setembro de 2024
A Mata Atlântica, bioma que mais perdeu área florestal no país até hoje, vive novas ameaças com brechas em lei aprovadas nesta semana pelo Congresso e o desmatamento em alta.
Apesar do cenário hostil, ambientalistas têm esperança diante de metas ambiciosas de reflorestamento e dos projetos voltados para a conservação, mas ressaltam que a missão não será fácil.
Neste sábado (27), é comemorado o Dia Nacional da Mata Atlântica. Antes de ler os 5 tópicos desta reportagem, jogue - aqui mesmo nesta página - o Bzzz!Drone, um game dedicado ao bioma. Basta clicar em Começar ou, se preferir, em Tutorial:
Abaixo, em 5 tópicos, o g1 traça um panorama da devastação na Mata Atlântica e apresenta as principais iniciativas para a recuperação do bioma:
Área de desmatamento da Mata Atlântica no Paraná. Foto foi feita em sobrevoo da Fundação SOS Mata Atlântica. — Foto: SOS MATA ATLÂNTICA/DIVULGAÇÃO
A conservação das florestas é vital para a saúde humana e do planeta. Especialistas alertam que, quando o percentual de matas maduras e bem conservadas fica abaixo de 20%, as espécies que habitam esse bioma correm bastante risco.
Por isso, não é de se espantar que a Mata Atlântica concentre 24% das espécies da fauna e flora do Brasil que estão ameaçadas de extinção.
Além disso, a fragmentação do bioma é um processo que pode acarretar problemas como escassez de água nas cidades, assoreamento de rios e deterioração da qualidade do ar.
É importante lembrar que boa parte da população brasileira ocupa áreas de Mata Atlântica.
A maior parte do bioma está em Minas Gerais, que tem 17% (cerca de 2,8 milhões de hectares). Em seguida vêm São Paulo e Paraná (com cerca de 2,3 milhões cada), Santa Catarina (2,2 milhões), Bahia (2 milhões) e Rio Grande do Sul, com 1 milhão de hectares.
Outros 11 estados têm Mata Atlântica em sua área: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Sergipe.
“Quando a gente corta a Mata Atlântica, a gente está cortando a água, está cortando a energia elétrica, está comprometendo a comida e o dia a dia das pessoas”, complementa Luís Fernando.
Diversos especialistas argumentam que simplesmente frear o desmatamento não é uma solução abrangente para combater os riscos iminentes e futuros das mudanças climáticas e da escassez de água. Por isso, uma das saídas apontadas é a restauração de florestas.
No caso da Mata Atlântica, centenas de instituições têm trabalhado e se envolvido em iniciativas e projetos do tipo. Um dos principais deles é o Pacto Trinacional da Mata Atlântica, escolhido entre os 10 projetos de referência de conservação no mundo pela ONU para a década de 2030.
O movimento foi estabelecido em abril de 2009 e tem como missão articular ações de diversos atores interessados na restauração do bioma, entre instituições públicas, privadas, governos e a comunidade científica.
O projeto é liderado pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e pela Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, que conta com organizações da Argentina, Brasil e Paraguai.
As metas são ambiciosas: recuperar 1 milhão de hectares até 2030 e restaurar no total 15 milhões até 2050. E, desde então, cerca de 700 mil hectares já foram restaurados.
"São metas ambiciosas, mas possíveis", afirma Taruhim Quadros, representante da Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica.
Berçário de árvores nativas da Mata Atlântica da Associação Copaíba, uma das iniciativas que integra o PACTO da Mata. — Foto: Tuane Fernandes/WWF-Brasi
No país, essa articulação está presente em todos os 17 estados do bioma e já gerou cerca de 126 mil empregos, com mais de 4.400 famílias beneficiadas em toda a cadeia.
"A restauração é a luz do fim do túnel para Mata Atlântica", diz a pesquisadora.
"Agora a gente precisa que os governos estejam ajudando fortemente, incentivando políticas públicas a favor da restauração e que vão favorecer essas inciativas em uma grande escala", acrescenta.
E as iniciativas já existem, explica Mariana Oliveira é Gerente do Programa de Florestas, Uso da Terra e Agricultura no WRI Brasil. Ela cita a própria Lei da Mata Atlântica, aprovada em 2006, o Código Florestal e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, que tem como objetivo promover políticas públicas de recuperação de florestas.
"Se fizermos o dever de casa, não precisamos inventar nada novo", diz a especialista, que também é representante do WRI Brasil no projeto.
Para o diretor-executivo da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto, houve algum avanço.
"Já avançamos, mostramos qual é o nosso potencial e que temos ciência, dados, políticas públicas e governança. Se juntarmos tudo isso, teremos um potencial muito promissor e uma referência ainda maior para o mundo", complementa.
Nesta semana, a Câmara dos Deputados ignorou mudanças feitas pelo Senado e retomou trechos de uma medida provisória que enfraquece regras de proteção da Mata Atlântica. Segundo ambientalistas, na prática, os dispositivos facilitam o desmatamento do bioma.
O texto segue agora para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que poderá sancioná-lo ou vetá-lo.
Inicialmente, a medida provisória editada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro tratava apenas da prorrogação para que imóveis rurais aderissem ao Programa de Regularização Ambiental (PRA).
Ao passar na Câmara pela primeira vez, no entanto, os deputados incluíram mudanças na Lei da Mata Atlântica, como:
Quando o texto seguiu para o Senado, os senadores retiraram esses pontos, mas ao ser analisado em segunda votação na Câmara, os deputados os devolveram para o projeto.
Para a Fundação SOS Mata Atlântica, a MP, do jeito que ficou, coloca a floresta ainda mais em risco ao permitir o desmatamento de florestas até então intactas na Mata Atlântica.
*G1