Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024
Quinta-Feira, 28 de novembro de 2024
A superintendente da Polícia Federal em Alagoas, delegada Luciana Paiva Barbosa, disse em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (21) que foram apreendidos documentos e aparelhos eletrônicos durante a operação contra a Braskem, em Maceió. Todo o material recolhido passará por análise e perícia e, em seguida, será enviado à Justiça.
O foco é apenas o crime ambiental. A PF apura se houve omissão de informações e falsificação de documentos para que a empresa pudesse renovar as autorizações para mineração de sal-gema realizada em Maceió entre as décadas de 1970 e 2019, que afetou o solo em 5 bairros e obrigou 60 mil pessoas a deixarem suas casas.
A conclusão do inquérito depende do resultado da perícia. Os trabalhos ainda continuam, sobretudo após o o rompimento de parte de uma das minas no início deste mês, dentro da Lagoa do Mundaú, uma das principais atrações turística de Maceió e que banha a região afetada.
Em nota enviada ao g1 a Braskem informou que está acompanhando a operação da PF e disse que "está à disposição das autoridades, como sempre atuou. Todas as informações serão prestadas no transcorrer do processo".
Os investigadores fizeram sobrevoos na região, visitas técnicas e colheram dados durante esse tempo. As investigações contaram com os trabalhos de peritos que atuaram nos desastres ambientais de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais e também com informações da Polícia Civil, Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, Ministério Público do Estado e Ministério Público Federal.
Todas as informações sobre o inquérito estão em segredo de justiça. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em Maceió (11), Rio de Janeiro (2) e Aracaju (1).
Em Maceió, um dos alvos é na sede local da Braskem, no bairro do Pontal da Barra. Os funcionários que chegaram para trabalhar foram impedidos de entrar no local.
No Rio, houve buscas em Copacabana, e um homem foi levado para a sede da PF. A corporação não havia informado o motivo da condução do homem até o local.
Funcionários da Braskem se aglomeram em frente à companhia em Maceió por terem sido impedidos de entrar em razão da operação da PF — Foto: Nick Marone/TV Gazeta
Segundo a PF, há indícios de que as atividades da Braskem na capital alagoana não seguiram os parâmetros de segurança previstos. Além disso, há suspeita de apresentação de dados falsos e de que informações foram omitidas dos órgãos de fiscalização, o que permitiu as atividades continuarem mesmo quando as minas já apresentavam problemas de estabilidade.
Os suspeitos podem responder pelos crimes de poluição qualificada, usurpação de recursos da União, apresentação de estudos ambientais falsos ou enganosos, inclusive por omissão, entre outros delitos.
Carros da Polícia Federal na sede da Braskem em Maceió na manhã desta quinta-feira (21) — Foto: Nick Marone/TV Gazeta
A jornalista Camila Bonfim teve acesso aos alvos das buscas, que compõem a direção, a área técnica e a gerência da empresa. Veja abaixo quem são:
A PF apura a atuação de empresas que prestavam consultoria pra Braskem: Modecon (RJ) e Flodim (SE). Todos os alvos de buscas também foram alvos de quebra de sigilo telemático, por meio do qual a PF poderá rastrear conversas por aplicativos de mensagem e por e-mail.
O g1 tenta contato com a defesa das pessoas citadas.
No início do mês, uma das 35 minas abertas pela Braskem para retirar o minério ao longo dos anos, entrou em colapso e se rompeu, dando início a um novo episódio.
Um vídeo feito pela prefeitura mostra o momento da ruptura. Veja abaixo.
Segundo a última atualização da Defesa Civil, a mina 18 entrou em processo de estabilização. Também não foram registradas novas atividades sísmicas na região após o rompimento. Até o momento, não se sabe o diâmetro e a profundidade da cavidade após o colapso.
Uma das preocupações após o rompimento era a salinização da lagoa e como isso poderia afetar os organismo vivos que habitam nela. Porém, uma análise das primeiras amostras retiradas da Mundaú indicou que não houve alteração significativa na qualidade da água. A conclusão foi apresentada por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e do Instituto do Meio Ambiente (IMA).
O Senado instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o afundamento de solo. Os trabalhos devem começar a partir de fevereiro do próximo ano. A CPI terá até 120 dias, com possibilidade de prorrogação, para funcionar. A contagem de dias será paralisada durante o recesso legislativo, iniciado em 23 de dezembro.
O trecho em um raio de 1 km na lagoa Mundaú foi interditado para navegação logo após a divulgação do alerta de colapso, feita no dia 29 de novembro. Segundo a Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura de Alagoas, a interdição continua e não há prazo para o fim da proibição.
Isso afetou a economia na região e a vida de aproximadamente 6 mil pescadores e marisqueiros que sobrevivem diretamente da pesca na lagoa e da extração de sururu, um molusco bastante consumido na gastronomia local.
*G1/AL