Sexta-Feira, 29 de novembro de 2024
Sexta-Feira, 29 de novembro de 2024
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu apoiadores na Praia de Copacabana, na manhã deste domingo (21). A manifestação aconteceu entre os postos 4 e 5.
Os manifestantes começaram a chegar pouco depois das 8h. Bolsonaro saiu do hotel ali perto por volta das 10h10, subiu em um dos caminhões e fez um discurso de cerca de 35 minutos, iniciado às 11h26.
Neste horário, os manifestantes ocupavam as duas pistas da Avenida Atlântica na altura da Rua Bolívar, entre as ruas Xavier da Silveira e Barão de Ipanema – não foi divulgada estimativa de público.
Em sua fala, Bolsonaro criticou o atual presidente Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, citou Elon Musk como "mito" e um “homem que preserva a liberdade”, e voltou a defender a anistia para os presos pelos atos de 8 de janeiro (entenda abaixo) – como já havia feito no ato na Avenida Paulista, em São Paulo, no fim de fevereiro.
"Quando eu estive com Elon Musk em 2022 começaram a me chamar de 'mito'. Eu falei: 'Não' - aqui, em 2022 - 'temos um mito da liberdade, Elon Musk'", disse, antes de pedir palmas para o bilionário, que tem usado sua rede social, o X (antigo Twitter), para atacar Moraes por suspender da plataforma contas de apoiadores de Bolsonaro.
O ex-presidente voltou a falar sobre as eleições de 2022, que perdeu para Lula, mas alegou ter havido fraude nas urnas, sem nunca apresentar provas. Desta vez, disse que "não estava duvidando" e que era uma "página virada".
"O que mais nós queremos é que o Brasil volte à sua normalidade, que possamos disputar eleições sem qualquer suspeição. Afinal de contas, a alma da democracia é uma eleição limpa onde ninguém pode sequer pensar em duvidar dela. Temos problemas hoje em dia. Façamos a coisa certa. Não estou duvidando das eleições, página virada", disse.
O protesto foi convocado por Bolsonaro em meio a investigações das quais é alvo por suspeita de participação numa tentativa de golpe de Estado para permanecer no poder.
O ex-presidente, ex-ministros e assessores e militares são alvos de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga essa tentativa de golpe.
Bolsonaro faz ato em Copacabana — Foto: Reprodução/TV Globo
Durante a semana, Bolsonaro citou, por meio de sua rede social, que a manifestação era para dar continuidade ao ato realizado em São Paulo, em favor do estado democrático de direito e para falar sobre a “maior fake news da história do Brasil, que está resumido hoje na minuta de golpe” – o que ele repetiu em seu discurso neste domingo.
Além de Bolsonaro, discursaram o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto; a ex-primeira-dama, Michelle; os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano; a cubana nacionalizada brasileira Zoe Martínez; e os deputados federais Nikolas Ferreira e Gustavo Gayer – que discursou em inglês por um momento.
Em sua fala, a mais longa depois de Bolsonaro, Malafaia negou a tentativa de golpe e criticou a investigação. Chamou Moraes de "ditador", xingou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), de "frouxo, covarde, omisso" e atacou a alta cúpula militar.
"Se os comandantes honram a farda que vestem, renunciem dos seus cargos. E que nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado. E o senhor presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, frouxo, covarde e omisso, vai ser acusado de prevaricação ", declarou.
Também participaram, sem discursar, os filhos de Bolsonaro Carlos (vereador), Eduardo (deputado federal) e Flávio (senador); o deputado federal e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem; o general Walter Braga Netto; e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), entre outros.
Ato em Copacabana; foto de 11h33, quando Bolsonaro discursava — Foto: Reprodução/TV Globo
Em fevereiro, durante ato na Paulista, Bolsonaro defendeu passar uma “borracha no passado” e anistiar os presos que teriam participado ou financiado os atos golpistas que culminaram no ataque contra as sedes dos três poderes em 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
Na ocasião, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal foram invadidos e depredados.
Mais de 1,4 mil pessoas foram presas após os ataques. Desde então, o STF tem julgado os envolvidos. Até a publicação desta reportagem, 196 pessoas foram condenadas.
Os presos estão sendo julgados individualmente por crimes como associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Em outubro de 2023, o senador Hamilton Mourão, ex-vice-presidente do governo Jair Bolsonaro, protocolou o projeto de lei que visa anistiar os presos do 8/1. O projeto está em tramitação no Senado.
Elon Musk atacou, na primeira semana de abril, as decisões de Moraes e ameaçou reativar os perfis de usuários que foram bloqueados por decisão da Justiça.
Em janeiro, pelo X, o empresário questionou Moraes sobre por que ele estaria “exigindo tanta censura no Brasil".
Em outro ataque ao ministro do STF, também por meio do X, Musk ameaçou reativar as contas bloqueadas, desrespeitando ordens judiciais, mesmo que, segundo Musk, isso custe o fechamento da empresa no Brasil e prejudique o lucro. O empresário não mencionou qual decisão do ministro, especificamente, gerou sua reação.
"Nós estamos levantando as restrições. Esse juiz aplicou penas massivas, ameaçou prender nossos funcionários e cortar os acessos ao X no Brasil", afirmou Musk.
Após as ameaças e ataques, Moraes determinou que a conduta do empresário seja investigada em novo inquérito e incluiu Musk entre os investigados no inquérito já existente das milícias digitais.
Moraes também determinou que a rede X não desobedeça a nenhuma ordem da Justiça brasileira sob pena de multa de R$ 100 mil para cada perfil que for reativado sem liberação da Justiça.
O ministro disse ver indícios de obstrução de Justiça e incitação ao crime nas atitudes de Musk.
Dentre os investigados pelo STF que tiveram os perfis bloqueados estão:
Pouco após a polêmica, em 12 de abril, o governo suspendeu novas campanhas de publicidade na rede social de Musk.
No dia seguinte, Diego Lima Gualda, representante do X no Brasil, renunciou ao cargo, segundo documento da Junta Comercial de São Paulo.
A defesa da rede social no Brasil informou a Moraes que seguirá cumprindo as ordens judiciais emitidas pela Corte. A PF, porém, disse ao Supremo que, apesar de ter mantido bloqueios de contas determinadas pela Justiça, a plataforma tem permitido que investigados continuem fazendo transmissões ao vivo na rede e permitindo que usuários brasileiros interajam com os perfis suspensos.
*G1