Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024
Segunda-Feira, 25 de novembro de 2024
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que resultou na prisão da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal mostra que a tropa liderada pelo major Flávio Silvestre de Alencar, alvo da operação da PF nesta sexta-feira (18), estimularam o ingresso de bolsonaristas radicais no Congresso Nacional, no dia 8 de janeiro.
O major Flávio Silvestre Alencar está preso desde o dia 23 de maio. Mensagens de texto encontradas pela operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, mostram que o militar pediu para que policiais deixassem os manifestantes invadirem o Congresso Nacional antes do dia 8 de janeiro.
O documento da PGR diz ainda que os militares chegaram a sinalizar para que os radicais prosseguissem com a invasão. Segundo o relatório, a equipe de Flávio Silvestre "detinha capacidade de impedir os danos ocorridos especificamente dentro do Congresso Nacional".
Ainda segundo o relatório, o então comandante da Polícia Militar Fábio Augusto Vieira recebeu uma solicitação de reforço do policiamento pelo diretor do Departamento de Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados. A PGR aponta que a solicitação só foi atendida uma hora e meia depois.
Já um dia antes dos ataques, o coronel Klepter Rosa Gonçalves, então subcomandante-geral, "determinou o emprego de efetivo insuficiente da PMDF", em conjunto com outros oficiais da cúpula da corporação.
Do lado de fora do STF, um policial que tentava conter a invasão dá um soco em um vândalo — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Além da atuação de Flávio, a PGR também citou ações tomadas pelo tenente Rafael Martins, outra alvo da ação desta sexta. Segundo a denúncia, o oficial "desestruturou a linha de contenção e retirou seus homens, que assistiram inertes ao avanço dos vândalos ao Supremo Tribunal Federal (STF)."
Na análise da PGR, a posição de comando "não é mero poder ou faculdade". Segundo o documento, o chefe militar tem responsabilidades e atribuições.
"Quem se encontra em posição de comando não está autorizado a simplesmente deixar a tropa à própria sorte" diz a denúncia
Segundo a PGR, o comandante policial militar "deve dirigir os integrantes da corporação para que se ponham a cumprir os misteres constitucionais e legais da PMDF de ‘preservação da ordem pública’ e de garantia do ‘livre exercício dos poderes constituídos"'.
Segundo a PGR, nas vésperas das invasões, o major Flávio Silvestre, designado para comandar as tropas em campo pelo Coronel Marcelo Casemiro, compartilhou com seu superior uma notícia de que o Ministro da Justiça, Flávio Dino, havia autorizado o emprego da Força Nacional para o possível risco inerente das manifestações.
Para impedir eventual atuação da Força Nacional no sítio dos fatos, assim, Casemiro disse ter ajustado que tais tropas atuariam apenas em locais distantes ou apenas em frente ao Ministério da Justiça, o que, "claramente, não seria suficiente para proteção dos edifícios-sedes dos Poderes da República", afirma a PGR.
O documento cita ainda que a Polícia Militar determinou o emprego de "200 homens com a pior formação e a menor experiência" para atuar em campo no dia 8 de janeiro. Segundo a denúncia, os policiais ainda estavam no Curso para Formação de Praças.
Nesse curso, os militares recebem instruções básicas para que possam atuar como soldados, “a mais baixa patente da carreira”, diz o texto.
Polícia Federal em frente à casa do comandante-geral da PMDF, Klepter Rosa — Foto: Michele Mendes/TV Globo
A Operação Incúria é resultado da denúncia que o Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos da PGR, coordenado pelo subprocurador Carlos Frederico Santos, ofereceu nesta semana ao Supremo Tribunal Federal.
Segundo a PGR, a cúpula da PM deixou de agir para impedir o vandalismo contra as sedes dos Três Poderes em razão do alinhamento ideológico com os manifestantes golpistas.
Ao longo de sete meses de investigação, a PGR descobriu que os PMs começaram a trocar mensagens com teor golpista e a difundir informações falsas antes do segundo turno das eleições presidenciais do ano passado.
A PGR verificou ainda que a PM do DF acompanhava as movimentações no acampamento golpista montado nos arredores do Quartel General do Exército, em Brasília.
Os procuradores têm indícios de que a cúpula da PM infiltrou agentes de inteligência entre esses manifestantes para obter informações e que tinha plena consciência da magnitude e da gravidade dos atos que estavam sendo planejado para 8 de janeiro.
Os documentos e as trocas de mensagens obtidas pela PGR contrariam a versão apresentada pelos integrantes da cúpula da PM do DF, de que o sistema de inteligência do DF falhou ao não avisar a corporação sobre o risco de invasão dos prédios dos Três Poderes.
*G1