Após dois adiamentos, está previsto para ser lançado nesta sexta-feira (19), às 15h45, na Base de Alcântara (MA), o foguete sul-coreano HANBIT-Nano, que fará o 1º voo comercial espacial partindo do Brasil. O g1 vai transmitir o lançamento ao vivo.
A missão foi adiada após a empresa responsável pelo dispositivo, a start-up sul-coreana Innospace, detectar uma anomalia no resfriamento do sistema de fornecimento de oxidante do primeiro estágio (estrutura) do foguete. O problema foi identificado durante a inspeção final para o lançamento.
Com isso, alguns componentes do sistema de refrigeração foram substituídos e o dispositivo está pronto para ser lançado. A bordo dele, haverá cinco satélites e três dispositivos que serão levados ao espaço e auxiliarão pesquisas em mais de cinco áreas, desenvolvidas por instituições do Brasil e da Índia.
Na operação batizada de Spaceward, 27 profissionais monitoram sistemas diferentes do foguete e precisam dar o aval final para que a missão — que pode ser concluída em até sete minutos — siga do solo maranhense rumo à órbita da Terra.
Cada técnico é responsável por monitorar um sistema específico, desde componentes estruturais até sistemas de refrigeração e propulsão, e só quando todas as equipes confirmam que os sistemas estão prontos é que o lançamento é autorizado.
Como é a estrutura do foguete
O HANBIT-Nano é capaz de atingir a atmosfera e chegar ao espaço em até três minutos, tem 21,9 metros de altura, pesa 20 toneladas e possui 1,4 metro de diâmetro (veja mais detalhes abaixo). Em sua trajetória até a órbita da Terra, ele pode chegar a 30 mil km/h.
Em números simplificados, ele equivale à altura de um prédio de sete andares, pode voar até 30 vezes mais rápido que um avião comercial e tem peso semelhante ao de quatro elefantes africanos.
Batizada de Spaceward, a missão envolve um trabalho coordenado pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB). Essa vai ser a primeira vez que o Brasil vai liderar uma missão comercial de colocação de satélites em órbita a partir do território nacional.
Se bem-sucedido, o lançamento pode representar um avanço do Brasil rumo ao mercado global de lançamentos espaciais. A compensação monetária paga pela Innospace ao governo brasileiro para a missão não foi informada.
A compensação monetária paga pela Innospace ao governo brasileiro para o lançamento no próximo dia 17 não foi informada. Segundo a AEB, a Innospace firmou um acordo de prestação de serviços pelo valor mínimo de retribuição ao Estado com o Governo Brasileiro. Essa modalidade não prevê 'lucro'.
? O lançamento do foguete HANBIT-Nano ocorrerá em dois estágios e poderá ser visto a olho nu dos céus de Alcântara (MA) e em parte do litoral de São Luís (MA).
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Arte: Como é o foguete HANBIT-Nano — Foto: Arte/g1
Base é considerada 'privilegiada'
Construído na década de 1980, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no litoral do Maranhão, conta com atrativos geográficos que fazem a área ser bastante atrativa e cobiçada para o lançamento de dispositivos espaciais.
Dentre os motivos, está a localização próxima à linha do Equador, que faz com que os foguetes gastem menos combustível e, com isso, o custo da operação seja menor. Além disso, a área fica próxima a uma ampla extensão do litoral, tem baixa densidade do tráfego aéreo e um amplo leque de inclinações orbitais para os lançamentos.
Quanto menor a latitude — sendo zero na Linha do Equador — , melhor é considerado o local para a realização de lançamento de foguetes. A velocidade de rotação de superfície, necessária para colocar o foguete em órbita, é maior quanto mais próximo à linha que divide os hemisférios Norte e Sul. Isso exige menor consumo de combustível da aeronave e menor tempo de viagem à órbita.
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Arte: Por que Alcântara? — Foto: Arte/g1
Alcântara ficou 'subutilizada' por anos
Apesar destas qualidades, a base se tornou por décadas subutilizada. Entre os motivos, estão o grave acidente há mais de 20 anos no local e questões fundiárias. A tragédia interferiu para a consolidação do Brasil no mercado espacial, com redução da atividade em Alcântara a partir de 2003.
➡️ O acidente aconteceu três dias antes do lançamento do foguete VLS-1, protótipo que colocaria em órbita dois satélites nacionais de observação terrestre. A estrutura estava montada e o dispositivo passava por ajustes finais, quando um dos motores teve uma ignição prematura e o protótipo foi acionado antes do tempo. A torre acabou explodindo e 21 civis que trabalhavam no local morreram.
Já a questão fundiária levou Alcântara até a cortes internacionais. Os conflitos pela terra com as comunidades quilombolas que viviam na região antes da instalação da base viraram processos judiciais que se arrastaram por décadas.
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Vista aérea do Aeroporto de Alcântara, localizado na área do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) — Foto: Divulgação/Agência Espacial Brasileira
Nova fase
A Operação Spaceward, que vai lançar o HANBIT-Nano, marca o início de uma nova era do Programa Espacial Brasileiro. O foguete pode inserir o Brasil no mercado global espacial, contribuir na melhora da tecnologia dos dispositivos espaciais e atrair novos investimentos estrangeiros, alavancando o Programa Espacial Brasileiro.
A abertura da base ao mercado de lançamento de foguetes comerciais em Alcântara começou a se tornar possível devido a um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) assinado pelos governos brasileiro e dos EUA, em 2019.
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Foguete sul-coreano HANBIT-Nano sendo transportado no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) no Maranhão — Foto: Força Aérea Brasileira (FAB)
Pelo acordo, dispositivos desenvolvidos com tecnologia norte-americana e por empresas privadas autorizadas por ele poderiam ser lançados de Alcântara, e o Brasil ficaria habilitado a receber uma compensação monetária.
Isso porque são os EUA que produzem grande parte dos componentes presentes em foguetes lançados no mundo. Porém, os norte-americanos não autorizam esses dispositivos a serem lançados por países nos quais eles não possuem acordos na área espacial. Com a assinatura, em 2019, o processo foi simplificado.
"Antigamente não era proibido, mas para cada lançamento que você fizesse, precisava de uma autorização especial. Agora, é muito mais fácil", explicou Marco Antonio Chamon, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB).