Sábado, 18 de janeiro de 2025
Sábado, 18 de janeiro de 2025
A Polícia Civil prendeu neste sábado (18) um policial militar suspeito de ser o motorista do carro usado pelos atiradores na execução de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, no Aeroporto Internacional de São Paulo no ano passado. Ao todo, já são 16 PMs presos por envolvimento no caso.
Gritzbach era acusado de envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro para a facção. Na delação premiada assinada com o Ministério Público, ele entregou o nome de pessoas ligadas ao PCC e também acusou policiais de corrupção.
O policial é o 1º tenente Fernando Genauro da Silva, de 33 anos. Ele foi preso em Osasco, onde mora. A reportagem tenta localizar a defesa dele.
Montagem com a foto, à direita, do Tenente Fernando Genauro da Silva, e imagem da câmera do aeroporto no momento da execução de Gritzbach — Foto: Reprodução
O PM foi levado para a sede do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) para prestar depoimento. Em seguida, será encaminhado ao Presídio Romão Gomes da Polícia Militar. A operação que levou à prisão do PM teve o apoio da Corregedoria da Polícia Militar.
Câmeras de segurança registraram o momento em que Gritzbach é executado a tiros no aeroporto.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública disse, em nota, que "as forças de segurança do estado são instituições legalistas e que nenhum desvio de conduta será tolerado. A força-tarefa criada para investigar o crime segue em diligências para identificar e punir todos os envolvidos".
Segundo a polícia, o carro Gol preto usado no crime foi encontrado depois abandonado.
A prisão dos outros 15 PMs aconteceu em uma operação na quinta-feira (16). Quatorze deles faziam a segurança pessoal de Gritzbach. Outro PM foi preso acusado de ser autor dos disparos. A polícia ainda não sabe se o suspeito de ser o atirador tem relação com o grupo que fazia parte da escolta.
Além dos policiais militares, foi preso na sexta-feira (17) um suspeito de ter ajudado o homem apontado como "olheiro" que avisou atiradores sobre a chegada de Gritzbach ao aeroporto e que segue foragido. Uma modelo apontada como namorada do olheiro também foi presa. Em dezembro, a polícia já tinha prendido um homem acusado de emprestar os dois carros usados na fuga: um para o olheiro e outro para os atiradores.
O cruzamento de diversas investigações sobre a facção, inclusive sobre a morte de Gritzbach, também levou à prisão de quatro policiais civis em dezembro. Depois, um quinto policial que estava foragido se entregou.
A reportagem apurou que a rapidez para buscar todas as câmeras da região do aeroporto e a análise dessas imagens foram fundamentais para a identificação do tenente preso neste sábado e do suspeito de ser o atirador.
Abaixo, confira o que se sabe sobre a investigação que levou à prisão dos PMs:
A investigação que culminou na prisão dos 16 policiais começou após uma denúncia anônima recebida em março do ano passado sobre o vazamento de informações sigilosas da polícia que favoreciam criminosos ligados à facção. O objetivo era evitar prisões e prejuízos financeiros do grupo criminoso.
Segundo a Corregedoria, informações estratégicas eram vazadas e vendidas por policiais militares da ativa e da reserva para integrantes do PCC. Um dos beneficiados pelo esquema era Gritzbach.
Em outubro, uma nova denúncia chegou à Corregedoria com fotos que mostravam PMs fazendo escolta para o empresário durante uma audiência no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste da capital. Em seguida, um inquérito militar policial foi instaurado.
Em 8 de novembro, Gritzbach foi morto com dez tiros na saída da área de desembarque do Terminal 2 do aeroporto. Ele carregava uma bagagem contendo mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor. O empresário voltava de uma viagem de Alagoas acompanhado da namorada.
No dia seguinte ao crime, quatro PMs contratados para fazer a escolta particular do delator foram identificados e afastados. Na ocasião, os celulares dos agentes também foram apreendidos.
A partir desse material, a Corregedoria da PM cruzou informações e descobriu que os policiais faziam parte de uma rede de proteção do PCC. Eles passavam informações para os criminosos poderem se antecipar às ações da polícia.
Os policiais foram identificados e presos pela Corregedoria por meio da quebra de sigilo telefônico, da utilização das estações rádio-base (equipamentos que fazem a conexão entre celulares e companhias telefônicas), do sistema de reconhecimento facial e de outras ferramentas de inteligência.
Durante coletiva de imprensa na quinta-feira, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, explicou que essas ferramentas colocaram o suspeito de ser o atirador — o PM Denis Antonio Martins — na cena do crime.
O cabo Denis Martins, preso acusado de ser um dos atiradores, foi identificado após um procedimento que detectou o sinal de celular dele.
Primeiro, a polícia quebrou o sigilo telefônico do suspeito para rastrear seus movimentos e as mensagens trocadas. A localização do suspeito foi identificada por sinais de telefonia. O sinal do celular indicou, então, que ele estava na cena do crime no momento da execução.
Veja como foi identificado o acusado de executar delator do PCC. — Foto: Bruna Azevedo/arte g1
Dezesseis policiais militares foram presos temporariamente por 30 dias pela Corregedoria e 15 deles já foram encaminhados ao Presídio Romão Gomes. O que foi preso neste sábado também será levado para lá.
Um dos alvos da operação de quinta foi o cabo Denis Antonio Martins, de 40 anos, acusado de ser um dos atiradores que executaram o delator do PCC. A identificação dele foi feita por uma tatuagem no braço, segundo a investigação.
De acordo com Derrite, o material genético de Martins será coletado para comparar com o material coletado no dia do assassinato. "Tudo nos leva a crer que será positivo e aí essa prisão temporária poderá ser convertida em prisão preventiva", disse.
Os outros 14 policiais presos na quinta eram do núcleo de segurança pessoal do delator e faziam a escolta privada dele.
O corregedor da Polícia Militar de São Paulo, coronel Fábio Sérgio do Amaral, explicou que um dos oficiais da PM preso era responsável por organizar a escala de trabalho dos subordinados, permitindo que eles realizassem o serviço de escolta para Gritzbach.
"Um oficial que era o chefe que gerenciava a atividade de segurança pessoal ilícita do Vinicius. O outro oficial que favorecia alguns PMs com suas escalas dava folga aos policiais e fazia intermediação de escalas para os policiais", afirmou Amaral.
A polícia ainda não sabe se o suspeito de ser o atirador tem relação com os agentes que faziam a escolta particular do delator.
Neste sábado, foi preso o PM suspeito de ser o motorista do carro usado pelo atirador no dia da execução.
Veja os nomes dos policiais presos:
Diretora do Departamento de Homicídios de Proteção e Proteção à Pessoa (DHPP), a delegada Ivalda Aleixo afirmou que o assassinato de Gritzbach foi encomendado por um integrante do PCC. Mas ainda não se sabe a identidade do autor.
"Nós temos duas linhas de investigação para os mandantes, ambos de facção. Então, foi um crime encomendado por algum membro do PCC. Nós temos duas linhas, que já estão bastante adiantadas, de investigação", disse Aleixo durante entrevista coletiva.
A delegada afirmou, ainda, que mais de uma pessoa pode ter sido mandante. Apesar de a investigação não descartar qualquer hipótese, ela não considera que o mando do crime tenha sido de alguém ligado às polícias.
Câmeras de segurança registraram o momento em que o delator do PCC foi morto no Aeroporto Internacional de São Paulo. A ação ocorreu no desembarque no Terminal 2. (Veja o vídeo no início desta reportagem.)
Pelas imagens, é possível ver que dois atiradores estão encapuzados. A ação dura 15 segundos.
Passageiros caminhavam tranquilamente com suas malas quando, no canteiro central da área de desembarque, dois homens saem do Gol preto, estacionado em frente a um ônibus da Guarda Civil Metropolitana (GCM), e começam a atirar.
Gritzbach estava de camiseta branca e levava uma mala preta. Ele passa pela calçada e atravessa na faixa de pedestre. Quando chega ao outro lado, o Gol preto para quase em frente ao empresário, e os dois homens saem do carro atirando.
Ele tenta fugir, mas tropeça na mureta e cai, quando é atingido por mais disparos. Os suspeitos, então, entram novamente no veículo e fogem.
Ao todo, Gritzbach foi atingido por dez tiros.
*G1