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Quarta-Feira, 27 de novembro de 2024

Economia

Na ata da reunião do Copom, BC reforça alerta para alta dos juros

Na ata da reunião do Copom, BC reforça alerta para alta dos juros

(Imagem: Reprodução)

Em tom mais duro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixou claro, na ata de sua última reunião, divulgada nesta terça-feira (6), que todos os diretores da instituição concordam em aumentar os juros, se for necessário, sem hesitação. Analistas do mercado começaram a precificar, inclusive, aumento da taxa básica da economia (Selic) na próxima reunião do colegiado, marcada para os dias 17 e 18 de setembro, especialmente se o dólar continuar valorizado como atualmente, em torno de R$ 5,70.

Na reunião dos dias 30 e 31 de julho, o Comitê decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica da economia em 10,50% ao ano. A ata também ficou maior do que a anterior em sete parágrafos e reforçou a preocupação com a piora dos cenários interno e externo e do quadro fiscal. Não à toa, o uso da palavra "risco" passou de seis, no Copom de junho, para 11, no de julho.

No documento, o grupo de nove diretores do BC ressaltou que "o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras". "À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado", destacou a ata, no parágrafo 25.

grafico Copomgrafico Copom(foto: Valdo Virgo)

Apesar de o Copom ser bastante enfático ao admitir que poderá subir juros, Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acredita que o BC ainda vai ter cautela antes de começar a aumentar a Selic. "Existe uma sinalização de que, se o cenário piorar, eles vão subir a taxa de juros, mas que, neste momento, vão aguardar mais informações para saber se a manutenção da taxa é compatível com o cenário de ancoragem das expectativas e convergência da inflação. Então acho que eles vão aguardar mais informações até por conta da volatilidade do cenário externo. Mas a ideia é guardar informações e, eventualmente, tomar uma decisão. Se for ter que tomar uma decisão diferente, é subir juros", resumiu.

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, avaliou que o Comitê mostrou na ata que "se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, será inevitável". "A ata do Copom transmitiu a mensagem que o comunicado não entregou: ficou claro que todo o comitê, não apenas alguns membros, está pronto para aumentar a Selic caso as tendências recentes nas expectativas de inflação e na dinâmica da taxa de câmbio persistam", destacou o economista do Itaú em relatório aos clientes.

A decisão do Copom foi anterior à piora do cenário externo, que derrubou as bolsas internacionais em meio ao aumento dos temores de uma recessão nos Estados Unidos, a maior economia global e que fez o dólar disparar, na segunda-feira, para R$ 5,74.

Comunicação dura

"A comunicação (da ata do Copom) foi bastante dura, o Banco Central assumiu a existência de riscos assimétricos para cima no cenário de inflação e concluiu que o processo de desinflação arrefeceu, tornando a convergência da inflação à meta desafiadora. Por fim, manteve o cenário externo desafiador e debateu as estratégias para a convergência da inflação: manter o juros atual por muito tempo ou ajustá-lo, dependendo da evolução dos dados", afirmou Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital. Apesar dessa sinalização, ela manteve a projeção de Selic estável em 10,50% até dezembro de 2024.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, ressaltou que o tom mais duro da ata do Copom em relação ao comunicado de quarta-feira passada incluiu a alta da Selic no cardápio dos próximos passos e no novo balanço de riscos, "todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação", além de vários membros enfatizarem assimetria.

"Os novos dados e eventos vão determinar o ambiente global nas próximas semanas: risco de recessão nos EUA é desinflacionário, apesar de machucar o câmbio dos emergentes", disse Gonçalves. Ele também manteve em 10,50% a previsão para a taxa Selic até o fim do ano.

O estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sergio Goldenstein, considerou o parágrafo 25 como o "mais importante da ata", porque, nele, o Copom afirma que é desafiador o cenário marcado pelas projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação. "Menciona que a definição dos próximos passos da política monetária dependerá bastante do desenrolar do cenário, sem se comprometer com estratégias futuras. Assim, aponta que avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a manutenção da taxa Selic por um período suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante e, de outro lado, unanimemente reforça que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado", afirmou.

Cenários

Na ata, o Copom também reforçou a preocupação com a questão fiscal e destacou que a percepção dos agentes financeiros sobre o aumento dos gastos públicos. De acordo com ata, "o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade".

"O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", alertou o colegiado. A ata repetiu o trecho de notas anteriores destacando o fato de que "políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego".

Câmbio

No cenário de referência para a trajetória da taxa de juros, o Comitê elevou a taxa de câmbio para o dólar de R$ 5,30 para R$ 5,55 e adotou a "hipótese" de volta da bandeira tarifária verde entre dezembro de 2024 e de 2025. O colegiado ainda destacou, na ata, que manteve o entendimento usual, sem qualquer alteração, "de que o horizonte relevante para a política monetária é de seis trimestres à frente, correspondendo, agora, ao primeiro trimestre de 2026", e reconheceu que a inflação segue acima do centro da meta, de 3%, mas dentro do limite de tolerância de 4,50%.

"Em ambos os cenários apresentados, de referência e alternativo, há um processo de desinflação ao longo do horizonte, mas a projeção para o horizonte relevante está acima da meta de inflação de 3%", destacou a ata. "O Comitê avalia que o cenário externo se mantém adverso. A menor sincronia nos ciclos de queda dos juros, já iniciados em alguns países avançados e ainda por iniciar em outros, contribui para a volatilidade de variáveis de mercado", ressaltou o texto.

A mediana das projeções de inflação do mercado coletadas no boletim Focus, do Banco Central, passou para 4,12%, em 2024, e para 3,98%, em 2025. Para 2026, a previsão foi mantida em 3,60%.

*Correio Braziliense