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Domingo, 22 de setembro de 2024

Política externa

Em discurso em NY, Lula critica a ONU e diz que falta 'ambição e ousadia' a líderes mundiais

Em discurso em NY, Lula critica a ONU e diz que falta 'ambição e ousadia' a líderes mundiais

(Imagem: ANGELA WEISS / AFP)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou mais "ambição e ousadia" dos líderes mundiais ao discursar neste domingo (22) na Cúpula do Futuro, evento da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York para debater o futuro da humanidade.

Lula chegou aos Estados Unidos no sábado (21) e passará cinco dias no país. Na próxima terça (24), deve abrir os discursos da Assembleia Geral da ONU (veja a agenda abaixo).

No discurso de 5 minutos (tempo máximo dado a cada líder), Lula voltou a temas que vem adotando em fóruns internacionais, como o combate à fome e às mudanças climáticas. E criticou o ritmo lento de adoção das metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU.

"Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos, e caminham para se tornar o nosso maior fracasso coletivo. No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo", disse Lula.

 

Segundo o brasileiro, os chefes de Estado e de governo têm duas "grandes responsabilidades": não retroceder nas garantias de direitos humanos e "abrir caminhos diante de novos riscos e oportunidades".

Lula e a reforma da ONU

 

Ao citar avanços previstos no "Pacto pelo Futuro" – documento que motivou a cúpula e deve ser assinado pelos países neste domingo –, no entanto, Lula criticou a falta de reformas estruturais em organizações como a própria ONU.

"Todos esses avanços serão louváveis e significativos, mas ainda assim, nos falta ambição e ousadia. A crise da governança global requer transformações estruturais. A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais."
 
"A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões. A Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades", listou Lula.
 

Junto com Alemanha, Japão e Índia, o Brasil forma o "G4", grupo que pressiona pelo aumento das cadeiras permanentes no Conselho de Segurança e pleiteia as novas vagas.

Desde 1945, o conselho tem os mesmos cinco membros permanentes: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido.

O Conselho de Segurança vem sendo criticado por sua paralisia frente a guerras que envolvem seus próprios membros, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra entre Israel (apoiado pelos EUA) e os grupos extremistas Hamas e Hezbollah no Oriente Médio.

"As instituições de Bretton-Woods [FMI e Banco Mundial] desconsideram as prioridades e as necessidades do mundo em desenvolvimento. O Sul Global não está representado de forma condizente com o seu atual peso político e econômico e democrático", disse Lula antes de estourar o tempo e ter o microfone cortado.
 

Além de Lula, compareceram à sessão na ONU a primeira-dama, Janja da Silva; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Marina Silva (Meio Ambiente), e o assessor especial de Lula e ex-chanceler Celso Amorim.

Comitiva brasileira acompanha discurso de Lula na Cúpula do Futuro da ONU, em Nova York — Foto: PR/Reprodução

Comitiva brasileira acompanha discurso de Lula na Cúpula do Futuro da ONU, em Nova York — Foto: PR/Reprodução

Pacto pelo Futuro

 

No evento, a ONU espera que líderes globais sinalizem a adesão ao Pacto pelo Futuro – documento de 42 páginas com metas e compromissos para, nas palavras da organização, "garantir um futuro mais justo, seguro e sustentável".

O pacto inclui temas defendidos pela diplomacia brasileira e por Lula, como:

  • reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas;
  • reforma do sistema financeiro internacional para impulsionar o desenvolvimento sustentável;
  • fortalecimento de entidades multilaterais como a própria ONU e a Organização Mundial do Comércio (OMC);
  • implementação de políticas de igualdade de gênero e combate às violências e discriminações baseadas em sexo, gênero e raça;
  • fortalecimento das ações contra a mudança climática, com a concretização dos compromissos assumidos pelos países em documentos como o Acordo de Paris.
 

No Brasil, queimadas e seca

 

Lula tem previsão de retornar ao Brasil na quarta-feira (25) – e faz essa viagem em um momento delicado para a imagem externa do país.

O governo defende pautas de preservação ambiental e tenta ser protagonista na transição energética, porém tem dificuldades para enfrentar a onda de incêndios e queimadas das últimas semanas.

O combate às mudanças climáticas deve ser um dos temas abordados por Lula na Assembleia Geral das Nações Unidas. Neste ano, o Brasil vivenciou dois extremos, com as cheias de maio no Rio Grande do Sul e a atual seca no país.

Veja a agenda completa de Lula nos Estados Unidos:

Domingo (22)

  • Sessão de Abertura da Cúpula do Futuro – Lula deve discursar no evento
 

Segunda-feira (23)

  • Encontro bilateral com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen
  • Encontro bilateral com o Primeiro-Ministro da República do Haiti, Garry Conille
  • Participa de evento da Iniciativa Global Clinton, organizada pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton
  • Participa da premiação anual da iniciativa Goalkeepers, organizada pela Fundação Bill e Melinda Gates
 

Terça-feira (24)

  • Encontro com o Secretário-Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres
  • Discurso na Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
  • Audiência concedida ao Presidente de Governo do Reino da Espanha, Pedro Sánchez
  • Participa do evento "Combatendo os Extremismos", em defesa da democracia
  • Encontro com o presidente da República Francesa, Emmanuel Macron
 

Quarta-feira (25)

  • Participa da sessão de Abertura da Reunião Ministerial do G20
 

Relembre abaixo o discurso de Lula na ONU em 2023:

Brasil abre discursos na ONU

 

Lula será o primeiro chefe de Estado a discursar no debate geral da assembleia, na terça-feira (24). Por tradição, cabe ao Brasil abrir os discursos de presidentes, primeiros-ministros e chanceleres no encontro anual de líderes dos países da ONU.

Mais uma vez, Lula deve abordar nos discursos em Nova York temas clássicos da diplomacia brasileira e pautas centrais de seus três mandatos, como:

  • inclusão e combate à fome,
  • necessidade de encerrar as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza,
  • defesa da democracia e
  • reforma dos órgãos que balizam as relações entre países.
 

O presidente aproveita a viagem aos Estados Unidos para cumprir outros compromissos, como um debate a respeito da defesa de democracia e um encontro, também organizado pela ONU, para firmar um "Pacto para o Futuro".

Lula também terá reuniões bilaterais com outros presidentes e primeiros-ministros.

*G1