Quarta-Feira, 19 de fevereiro de 2025
Quarta-Feira, 19 de fevereiro de 2025
Com a eleição de 2026 em vista, o presidente Lula (PT) ainda teria tempo para se recuperar nas pesquisas, mas vê sua base sinalizando a um desejo de renovação, avaliam cientistas políticos ouvidos pela CNN.
Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (14) apontou que a aprovação do governo Lula entre os brasileiros desabou para 24%, a pior nos três mandatos do petista.
Já outro levantamento, do Ipec, divulgado no sábado (15), apontou as razões para 32% dos brasileiros que votaram em Lula em 2022 avaliarem que o petista não deveria buscar um quarto mandato presidencial.
Para o doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Fábio Vasconcellos, os quase dois anos que separam estas pesquisas de fevereiro e as eleições de outubro de 2026 ainda dão margem para Lula reverter o cenário negativo.
“Ainda temos um governo para ser realizado em dois anos […] e você não sabe quem serão os competidores em 2026 — e o eleitor, em toda eleição, faz um comparativo (dos candidatos), dado o contexto”, afirma Vasconcellos, também pós-doutorando do Representação e Legitimidade Democrática (ReDem), projeto de pesquisa sediado na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Nova pesquisa
Na pesquisa Ipec, os principais argumentos apontados pelos quase 1/3 de eleitores de Lula em 2022 que não querem vê-lo nas urnas em 2026 foram:
“A pesquisa (Ipec) sugere que há um espaço crescente para a apresentação de novas lideranças, seja dentro do PT ou em partidos aliados”, diz o cientista político Jorge R. Mizael, sócio-diretor da consultoria Metapolítica.
Para Mizael, também doutorando em Ciência Política no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), Lula não pode ignorar o desejo de renovação que vem emergindo na base e precisa definir como se portará em 2026.
“Ao adiar uma decisão clara, ele pode alimentar a incerteza dentro de sua coalizão e dificultar a construção de uma alternativa viável, caso decida não concorrer”, acrescenta.
Declaração
Na mais recente fala sobre 2026, Lula colocou sua saúde em primeiro lugar — no ano passado, o petista sofreu uma queda no banheiro e precisou fazer uma cirurgia em decorrência do acidente doméstico.
“Se eu tiver com 100% da saúde e a energia que eu tenho hoje, [eu me candidato], inclusive, de cabeça limpa; porque caí [com] um tombo, machuquei e fiz um tratamento, limpei minha cabeça e tirei tudo que era bobagem que tinha na cabeça: só ficou coisa boa agora e pensamentos positivos”, afirmou à Rádio Clube do Pará, na sexta, antes da divulgação da pesquisa Datafolha.
“Se eu estiver legal e achar que posso ser candidato, posso ser candidato. Mas, não é a minha prioridade agora: quero governar 2025”, acrescentou.
Sucessão
Quando preso em 2018 e impedido de disputar a eleição daquele ano, Lula indicou o então ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad para se lançar à Presidência pelo PT.
Hoje, Hadadd é avaliado pelo meio político como favorito para suceder Lula (seja em 2026, seja em 2030), mas é o titular do Ministério da Fazenda — e é na área econômica que se concentra o atual desgaste do governo perante à opinião pública.
“Não adianta você lançar um candidato que é ministro da economia com a economia em frangalhos. Esse projeto estaria completamente falido”, diz Vasconcellos, ponderando que ainda enxerga Haddad como favorito para a sucessão governista.
Aliados de Lula ouvidos pela CNN defendem que o petista ligue o “modo eleição” e apresente medidas em relação ao consumo e à renda — a começar por uma proposta de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil, que a área econômica espera enviar ao Congresso depois do Carnaval.
“Lula III é um mandato que ainda não deixou uma marca e que nasceu sob a égide do risco democrático — mas esse apelo já não tem mais a mesma força”, avaliou o cientista político Rafael Cortez, professor do Instituto Brasileiro de Ensino Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
Com a máquina pública à disposição para implementar políticas públicas, Mizael acredita que o governo Lula ainda conta com “fator de vantagem” para reverter o cenário e se sair bem nas urnas em 2026.
“Se houver uma melhora perceptível nos indicadores de inflação, crescimento e emprego, ele (Haddad) pode recuperar força como sucessor. Caso contrário, novos nomes tendem a ganhar espaço”, afirma Jorge Mizael.
“O tempo ainda joga a seu favor, mas a margem é estreita”, acrescenta.
Comparação
O então presidente Jair Bolsonaro (PL), em pesquisas Datafolha em setembro e dezembro de 2021, chegou a ter 22% de aprovação e 53% de reprovação — indicador pior que o atual de Lula, e ainda mais próximo da eleição.
Entretanto, Bolsonaro viu sua popularidade crescer em 2022 em meio a ampliações em benefícios sociais, chegando a 31% de aprovação na véspera do primeiro turno.
Mesmo derrotado por Lula no segundo turno, foi por margem mínima: 51% a 49%.
“O próprio governo — e Haddad — vão reagir a estes indicadores”, afirma Vasconcellos, se referindo tanto aos números da economia, como das pesquisas.
“O quanto essa reação vai gerar resultados positivos? Essa é a interrogação”, finaliza.
*CNN